#8 - Santiago, o mar e eu: uma história de amor pela água
“Agora não há tempo para pensar no que você não tem. Pense no que pode fazer com o que tem.” - O Velho e o Mar
Este é o “Tudo o que quis dizer, mas só escrevi”. É parte daquilo que guardo para mim e que agora você tem acesso, diretamente do meu coração para o seu dispositivo móvel. Falo sobre literatura e tudo o que aflige minha mente. Que bom que você chegou. Caso não seja assinante, fique à vontade e clique no botão abaixo :)
1. Os mares que me trouxeram até aqui
Morei um ano no Rio de Janeiro com a minha mãe quando era criança. Ela trabalhava como doméstica em uma casa de família.
Da varanda do apartamento, meus olhos percorriam a extensão do condomínio, passavam pela Avenida Lúcio Costa, pulavam os carros na pista até chegarem nela: a praia.
Me lembro de forçar minha visão ao máximo que eu conseguia para tentar identificar, numa falha tentativa, o ponto exato em que o céu abraçava o mar na linha do horizonte.
Definitivamente, a varanda era o melhor lugar daquele apartamento e eu a adorava. Adorava ver a praia e adorava observar as ondas quebrando. Se fechasse os olhos, jurava ser capaz de ouvi-las.
Algumas mudanças significativas aconteceram de lá pra cá, mas uma coisa permaneceu intacta: a minha paixão pelo mar. Gosto de observar. Gosto de ouvir. Gosto de imaginar como seria viver nele.
A minha visão talvez seja totalmente romantizada para os que verdadeiramente vivem do mar, afinal, os problemas existem e são bem claros:
Estima-se que 80% dos resíduos que acabam nos oceanos tenham origem terrestre;
Os principais vilões são os resíduos plásticos, produtos químicos e esgotos não tratados;
A poluição marítima inclui vazamentos de petróleo, resíduos lançados por navios e as redes de pesca abandonadas.
A Década do Oceano (2021-2030), liderada pela UNESCO e pela ONU, visa promover a saúde dos oceanos e seu uso sustentável. Sobretudo, manter o respeito pelo mar.
Santiago, um velho amigo, sempre manteve.
Esse velho senhor de olhos da cor do mar, alegres e indomáveis, tinha o oceano como algo que concedia ou negava grandes favores. Mas se o mar praticava selvagerias ou crueldades, era apenas porque não podia evitá-las.
2. Santiago: pescador e conhecedor de águas antigas
Ernest Miller Hemingway. Esse é o nome do gênio que criou Santiago e tantos personagens que marcaram a literatura mundial.
Hemingway é um escritor extraordinário.
Conhecido por sua técnica impecável, o autor norte-americano é considerado um dos maiores nomes do século XX e ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1954. Em seu discurso, afirmou: “Escrever, em sua melhor forma, é uma vida solitária.”
A obra que lhe garantiu o título foi, inclusive, O Velho e o Mar. Nela, Hemingway narra a vida solitária sobre um senhor cuja única força motriz era a esperança de pegar um grande peixe após 84 dias de redes vazias.
Santiago preparou seu barco e partiu antes do nascer do sol do octogésimo quinto dia em busca da sua grande aposta. Ele conhecia o mar, conhecia as criaturas e conhecia a vida.
Viúvo, o velho morava em uma casinha simples e contava com a ajuda de Manolin, um garoto muito jovem que trabalhava em seu barco.
Com maestria, Hemingway descreveu exatamente essa simplicidade com frases curtas características de sua narrativa, mas que são tão intensas quanto a extensão do oceano.
Não vou dar nenhum spoiler sobre o livro. Tudo o que posso dizer é que O Velho e o Mar é uma experiência única: de leitura, de reflexão e de transformação. Sobretudo, é uma aula de sensibilidade de Santiago.
3. Todos nós temos a aprender com Santiago
“Eu sei que isso é o melhor que posso escrever na minha vida toda.”
Essa foi a frase enviada ao editor após a conclusão de O Velho e o Mar. É difícil imaginar Hemingway desacreditado de seu próprio potencial e de sua literatura, mas ele estava. Seu livro Na Outra Margem, Entre as Árvores não foi bem recebido pela crítica.
A história de Santiago pode ser um reflexo do que Hemingway viveu: a busca pela sua sorte grande, sua obra-prima.
Santiago estava há 84 dias sem pescar. O autor, por sua vez, passou por um hiato de 12 anos até Na Outra Margem, Entre as Árvores, seguido por mais dois anos até lançar O Velho e o Mar.
A obra de Hemingway me pega em um ponto muito específico: a paciência de Santiago.
Como uma pessoa ansiosa, quero tudo para ontem. Sinto uma necessidade quase vital de criar vários cenários e esperar — com certa pressa — que as coisas aconteçam logo.
Santiago, entretanto, espera. Espera um dia, dois, três. Espera até o octogésimo quinto dia para fisgar um marlim gigante, que arrasta o seu barco por dias. A luta contra o peixe, para mim, é a minha luta contra uma coisa que não consigo controlar: o tempo.
4. A água que me move também move outros barcos
Li O Velho e o Mar por causa de um spoiler. Então, se você é do tipo que se aborrece com revelações antecipadas, saiba que há quem use essas pequenas informações como um catalisador.
Foi minha madrinha quem me apresentou o livro, pois sempre falava dele. Segundo ela, era o melhor livro que leu. O problema é que ela me contou toda a história antes mesmo de eu abrir a primeira página. E detalhe: ela disse que Santiago tinha pescado uma baleia.
Confesso que fiquei um pouco decepcionada ao descobrir que o peixe, na verdade, era um marlim¹. Eu realmente esperava que fosse uma baleia. Talvez ela tenha se confundido com Moby Dick.
Ainda que minha madrinha não gostasse de mar, ela leu um livro sobre ele. Dizia que "água não tem cabelo" e, quando ia à praia, ficava na areia. Eu, por outro lado, se soubesse nadar — ainda estou aprendendo —, me sentiria um verdadeiro peixe.
A simbologia da água, em geral, é bastante forte na minha vida.
Sou de Peixes, signo de água. Venho de uma cidade cujo nome, de origem tupi, significa "peixe branco". Eu adoro o mar, o oceano. A aula de natação é o melhor momento da minha semana e me encontrei na canoa havaiana.
A água é o que me move. De alguma maneira e por alguma razão, tenho a necessidade de estar na água ou perto dela. É como se ela dissesse alguma coisa que ainda não consegui entender.
Santiago sempre teve os ouvidos abertos para o mar, mas voltava para terra, para a sua casa, onde sonhava com leões ao final do dia. Até mesmo o pescador sabia que a água dava e tirava na mesma proporção.
O Velho e o Mar me ensinou que a paciência, a sabedoria e o preparo para enfrentar desafios são as principais virtudes da vida — mesmo que dura e solitária. Afinal:
“Cada dia é um novo dia. É melhor ter sorte. Mas eu prefiro fazer as coisas sempre bem. Então, quando a sorte chegar, estarei preparado.”
Referências bibliográficas
BARROS, Marcelo. Década do Oceano: Soluções para enfrentar a poluição marinha. Defesa em Foco, 2024. Disponível em: <https://www.defesaemfoco.com.br/decada-do-oceano-solucoes-para-enfrentar-a-poluicao-marinha/>. Acesso em: 04 de março de 2025.
POMPERMAIER, Paulo Henrique. Publicado há 65 anos, ‘O velho e o mar’ foi redenção literária de Hemingway. Revista Cult, 2017. Disponível em: <https://revistacult.uol.com.br/home/ernest-hemingway-o-velho-e-o-mar-65-anos/>. Acesso em: 04 de março de 2025.
Notas de rodapé
1. Estou pensando em fazer uma tatuagem em 2025. Acho que um marlim será uma boa opção pra começar.
Escreva você
✨ Onde você se encontra? Qual é o lugar que te faz ser você mesmo?
Não disse, mas escrevi
À minha madrinha: a indicação rendeu um texto, dinda. Às vezes, sinto que tudo o que escrevo tem a ver com você. Queria que estivesse aqui para te mostrar.
Ao mestre Hemingway: sua obra é avassaladora. Quem me dera escrever, pelo menos, 1% do que você produziu.
Tudo o que quis dizer, mas só escrevi
Este é um espaço onde consolido o aprendizado adquirido nas minhas leituras, além de ser um canal para fazer o que me define: escrever. Me sinto eu mesma quando coloco as palavras no papel. Leia-as uma vez por mês diretamente na sua caixa de entrada.
Quem escreve
Sou Alessandra da Veiga, mais conhecida como Alê. Jornalista por formação, mas Redatora SEO por ofício. Tenho 2 sobrinhos lindos que são minha paixão. Além disso, amo a praia, mas não sei nadar (ainda).
Para sermos amigos, siga @aleveiga no Instagram. Para sermos parceiros em projetos profissionais, clique aqui e conecte-se comigo no LinkedIn. Será um prazer ter você nos dois canais e, claro, nas próximas news :)