“Os anos são compostos de muitos dias que sucedem rápidos como batidas de cílios, e eu gostaria de ainda ter tempo de ser feliz.” - Caderno Proibido
Este é o “Tudo o que quis dizer, mas só escrevi”. É parte daquilo que guardo para mim e que agora você tem acesso, diretamente do meu coração para o seu dispositivo móvel. Falo sobre literatura e tudo o que aflige minha mente. Que bom que você chegou. Caso não seja assinante, fique à vontade e clique no botão abaixo :)
1. Fechei meu olhos e me perdi no que eu poderia ser
Achei que não sobreviveria a dezembro de 2024, mas cá estou: firme, tentando ser forte e pronta para seguir em frente.
Na última news, disse que eu queria ter feito mais do que apenas trabalhado. Basicamente, meus dias se resumiam a acordar, trabalhar, dormir e repetir tudo de novo no dia seguinte.
Essa rotina cansativa, mas que não me fazia gastar energia nenhuma, me saturou. Os sinais eram bem claros: estresse, irritabilidade, a sensação de que a minha vida era chata e uma vontade absurda de fazer coisas novas.
Eu vivia como uma dona de casa. Fazia as coisas para a minha casa ou para o meu relacionamento apenas. Não sabia mais o que eu gostava de fazer sozinha, não saía sozinha e não ficava sozinha.
E tudo o que eu consegui pensar nesse momento foi: será que eu me tornei a Valeria Cossati?
Valeria Cossati, uma mulher que viveu na Itália dos anos 50 em Caderno Proibido, foi tema da quarta edição da minha news. Nela, eu falei sobre como um caderno preto fez Valeria abrir os olhos para a sua própria vida.
Do lado de cá, reconheço que eu fechei os meus por muito tempo. Esqueci de quem eu era e quem eu poderia ser, mas agora estou desperta. Estou com os meus olhos bem abertos.
2. Processo criativo: quando escrever leva à estagnação
Começar esta edição foi um verdadeiro desafio. Interrompi a frequência da news por não sei qual motivo certo, mas posso listar alguns:
1. Perfeccionismo que leva à exaustão
Entrei numa neura de “tem que ser perfeito” quando fiz a news sobre Cem Anos de Solidão.
Comecei a tratar os textos como trabalhos acadêmicos: citações, referências, correção ABNT… A pesquisa era uma parte legal, mas me levava à exaustão justamente porque eu me cobrava excessivamente.
02. Falta de organização
As primeiras edições começaram muito bem, pois falei sobre algumas leituras que já havia feito em 2024. Na edição de fim de ano, meu plano era trazer Morte e Vida Severina, que é um auto de Natal.
Mas adivinha? A desorganização não me deixou. Eu não me organizei direito no fim do ano e também estava tentando sobreviver à enxurrada de pensamentos esquisitos que surgiram na minha cabeça. Conclusão: frequência interrompida.
03. Frustração
Falei sobre exaustão no primeiro tópico e ele bate direitinho com este aqui. A frustração veio ao me dedicar tanto aos textos e perceber que quase ninguém se importava. (Tópico sensível que já está sendo tratado na terapia).
Fiquei incomodada com a desvalorização dos textos em comparação com minha hiper dedicação. A verdade é que meu ego estava ferido, e o acúmulo de coisas me levou a parar de escrever.
3. Estava mais próxima de Valeria do que de mim mesma
Chegou um momento na minha vida em que eu já não me identificava comigo mesma — sem ao menos saber quem eu realmente era.
Me sentia dependente, sozinha e incapaz, e sabia que a única mulher que poderia me compreender seria Valeria, pois ela mesma questionou: quando é que somos verdadeiramente nós?
Não escrevi para identificar meus problemas, mas Valeria Cossati sim. E se para ela o caderno preto abriu os olhos para a vida, a terapia cumpriu esse papel do lado de cá.
Eu sentia inquietação, uma vontade intensa de descobrir o mundo e coisas que não fiz. Em paralelo, a vergonha de ter fechado os olhos para mim mesma nesses últimos quatro anos me fez refletir:
“Há algumas semanas estou num questionamento que está fritando a minha cabeça. Estou entediada com a minha vida. Entediada de só acordar, trabalhar e dormir de novo. Eu não saio de casa, não vejo pessoas, não faço nenhuma atividade física. Eu não tenho outros amigos, eu não conheço pessoas novas. Eu acho a minha vida chata porque estou há quatro anos dentro de casa.”
Pensei em Valeria em algum momento dessa confusão. Casada e com dois filhos, ela trabalhava para ajudar nas contas de casa. Me questionei: será que estou mais próxima de Valeria do que da versão que imaginei quando tinha 18 anos? De certa forma, eu estava.
4. Adeus, Valeria. Olá, Alê
Com muita paciência e sessões de terapia, voltei a brilhar. Voltei a ter vontade de sair e explorar o que estava além da porta do meu apartamento.
Quando dei o primeiro passo, experimentei a liberdade que Valeria sentiu ao utilizar a escrita como uma aliada no processo de autodescoberta.
Voltei a estudar e recuperei a curiosidade que era natural em mim. Voltei a ter coragem de tentar, apesar de sempre ouvir a voz da ansiedade na minha cabeça, sussurrando todos os - piores - cenários possíveis. Mas, ainda assim, eu tento.
Sigo tentando vencer a síndrome da impostora. Sigo buscando a minha melhor versão¹. Extremamente clichê, eu sei, mas para quem passou os últimos anos sendo apenas namorada, dona de casa e redatora, a minha melhor versão tem que ser alguma coisa além disso.
Não imaginei que Caderno Proibido teria tamanha importância na minha vida. Minha amiga Janelli disse que o livro veio num momento conturbado da sua vida. Talvez ele faça mais sentido quando mudanças estão prestes a acontecer.
E me despeço de Valeria com algo que ela disse no livro e que se encaixa direitinho na minha nova versão:
“Pois agora que todos se vão rumo às suas vidas, me parece natural começar a viver a minha.”
Notas de rodapé
1. Minha melhor versão, em 2 meses, já viveu mais coisas que o último ano inteiro. Fiz uma aula experimental de canoa havaiana, pintei com aquarela, comecei a fazer aulas de natação e vou me aventurar nas artes marciais. É um bom ano para estar viva.
Escreva você
✨ Hoje não tem nenhuma pergunta, mas há um espaço livre pra você dizer o que quiser: um conselho, alguma observação ou que só entende como eu me senti. Fique à vontade.
Não disse, mas escrevi
À Alessandra do passado: página virada, minha amiga. Estamos reconstruindo (ou construindo) a sua vida.
À minha psicóloga: obrigada por me ajudar a enxergar que eu tinha solução e que só eu poderia fazer alguma coisa pra mudar.
Façam terapia. Busque alguma maneira de compreender a si mesmo, olhar pra dentro com mais atenção e paciência.
Tudo o que quis dizer, mas só escrevi
Este é um espaço onde consolido o aprendizado adquirido nas minhas leituras, além de ser um canal para fazer o que me define: escrever. Me sinto eu mesma quando coloco as palavras no papel. Leia-as uma vez por mês diretamente na sua caixa de entrada.
Quem escreve
Sou Alessandra da Veiga, mais conhecida como Alê. Jornalista por formação, mas Redatora SEO por ofício. Tenho 2 sobrinhos lindos que são minha paixão. Além disso, amo a praia, mas não sei nadar (ainda).
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